HERÁLDICA

Nova Heráldica da Santa Casa da Misericórdia de Redondo
Março 2010

A Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Redondo, com autoridade bastante que lhe advém da sua identidade jurídica, e devido ao facto de as representações heráldicas das Santas Casas de Misericórdia serem assumidas, vai proceder à correcção da actual representação heráldica, onde constam alguns equívocos, e assumir uma nova insígnia já corrigida.

Armas assumidas são aquelas cujos símbolos e organização são escolhidos pela entidade, singular ou colectiva, que se revê simbolicamente naquela representação, a qual, não obstante, se deve reger pelos princípios que organizam e estruturam a heráldica em geral.

A decisão tomada pelo Provedor e demais membros da Mesa, assenta num estudo e proposta feito por nós anteriormente à SCMR, e que foi publicado no Boletim “Redondo Solidário” nº 2 (2010), p.5, e que apresentamos em seguida.

A Heráldica das Santas Casas

As Santas Casas da Misericórdia ostentam, por norma, um conjunto heráldico em que surgem dois escudos, geralmente elípticos, sendo que o 1º, à esquerda do observador, tem a representação que especificamente identifica a Misericórdia em causa, e o 2º, ostenta as armas de Portugal, ambos enquadrados numa cartela ou conjunto decorativo de fantasia, a que se sobrepõe, geralmente, a coroa real fechada. Muito raras excepções existem a esta forma tradicional e maioritária, encontrando-se, por vezes o desaparecimento da coroa, alteração que terá surgido após 1910 e à implantação da República; ou porque foram Misericórdias que tiveram o seu início também já depois daquela data, portanto em contexto socio-político republicano.

O facto da representação heráldica das Santas Casas ostentar as armas de Portugal deve-se ao facto de a primeira, e matricial, destas instituições, a de Lisboa, se dever à iniciativa da Rainha D. Leonor, viúva de D. João II. E tendo as Santas Casas contado com a protecção régia, desde D. Manuel I então rei, a presença das armas de Portugal identificam essa realção com a Coroa, ou mesmo, em termos latos e prospectivos, com o Estado.

Temos a nossa própria teoria quanto ao facto de a representação das armas de Portugal se encontrar do lado direito (do observador), e não do lado esquerdo, como deveria ser, atendendo à protecção que lhes vinha dos monarcas. Esta colocação estará como memória de a quem se ficou a dever a iniciativa primeira que levou à criação das Misericórdias, e que foi a uma rainha; pois é naquela posição que se representa a heráldica feminina.

Questões relativas à Heráldica da SCMR

O conjunto simbólico que identifica presentemente a Santa Casa da Misericórdia de Redondo levanta algumas questões de teor heráldico, que vamos referir seguidamente de forma sucinta.

Em primeiro lugar, a representação heráldica que se encontra no pano que está à entrada da Igreja da Misericórdia de Redondo e a que actualmente identifica a mesma Instituição na documentação, nas viaturas, etc., não são iguais.

De acordo com as regras da heráldica podemos afirmar que a representação no pano é mais correcta que a outra, pelo facto de:
– no pano a bordadura dos castelos das armas de Portugal tem os castelos de ouro; enquanto a segunda, inexplicavelmente, os apresenta de negro, como uma sombra estilizada, que quase se confunde com um “x” de negro;
– o pano tem os escudetes de azul do campo, com os besantes (círculos) em prata, como sempre foram representados, desde o início da Monarquia portuguesa, enquanto a actual representação, os ostenta de negro, o que os torna praticamente invisíveis, sendo muito difícil, embora não impossível, distinguir círculos de negro em campo azul;
Estes dois casos, os castelos de negro sobre a bordadura vermelha e as arruelas negras nos escudetes azuis, são incorrectos heraldicamente falando, pois os esmaltes (cores) não se podem justapor.

O outro escudo, o que identifica esta Misericórdia, levanta outras questões (não se conhecendo nenhuma representação heraldicamente correcta):
– apresenta-se de prata, com cruz de negro sobrepujada no chefe pela palavra “Mezericórdia” por extenso, e no contrachefe um crâneo sobre duas tíbias aspadas de ouro, sobre um conjunto que insinua uma massa de crâneos, todos também de prata.

A questão principal é a existência de metais (ouro – amarelo e prata – branco) justapostos, o que não é correcto, da mesma forma que para os esmaltes, como vimos acima. Justaposição de metais entre si e de esmaltes da mesma forma, não é sinal de boa heráldica.

Apesar de não termos conseguido reunir um conjunto substancialmente esclarecedor de iconografia sobre a heráldica desta Santa Casa que nos ajudasse a resolver definitivamente aquelas questões, ainda assim apresentamos em seguida uma proposta de correcção da heráldica da SCMR, com base no que foi atrás identificado:

Alterações

Armas de Portugal – os castelos da bordadura em ouro; os besantes dos escudetes do campo em prata.

Armas da Santa Casa da Misericórdia de Redondo – campo de azul (como a SCM Lisboa), com todos os elementos, incluindo a palavra “Mezericórdia”, em prata.

O Conjunto Decorativo, envolvente e enquadrante, bem como a Coroa, deverão ser de ouro, e não no tom róseo que presentemente ostenta. O aro da Coroa, que apresenta o que seriam as esmeraldas, de amarelo, deverão as mesmas voltar a ser de verde.

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Leitura

Conjunto heráldico composto por dois escudos ovalados.

À dextra, o escudo da Santa Casa da Misericórdia de Redondo: campo de azul, com cruz latina de prata; no chefe, de prata, a palavra “Mezericórdia”; e no contrachefe, de prata, crânio sobre duas tíbias cruzadas, e este conjunto sobrepujando um conjunto de crânios, esboçados.

À sinistra, as armas de Portugal: campo de prata, com cinco escudetes, de azul em cruz, ostentando cada um, cinco besantes de prata em sautor ou aspa; bordadura de vermelho, com sete castelos de ouro.

Tudo inserido numa cartela de fantasia, de ouro, sobrepujada pela coroa real fechada, sendo visível o gorro de veludo vermelho e cinco hastes de ouro, carregados de pérolas. Tudo encimado pelo globo e pela cruz.

O aro da coroa ostenta três rubis e duas esmeraldas, alternadas, e todas separadas por pérolas entre si.

Sob o conjunto, um listel com os dizeres: “Misericórdia de Redondo”.

Em Redondo, aos 5 dias do mês de Março de 2010

O Responsável pela Proposta aceite,
António Rei
Doutor em História Medieval – Universidade Nova de Lisboa
Investigador Integrado do Instituto de Estudos Medievais / FCSH – UNL
Membro do Instituto Português de Heráldica e da Associação Portuguesa de Genealogia