IGREJA DA MISERICÓRDIA

A Igreja da Misericórdia data do séc. XVI, restando desta época a abóbada da capela-mor com um artístico tecto polinervado, derradeiro trabalho do tardo – Manuelino, já em tempo de Dom João III. Apresenta planta quadrada, é antecedida por elevado arco – mestre redondo, apilastrado, com o escudo real joanino pintado a fresco.

A fachada do templo é obra da reforma setecentista, em que se ampliou a Igreja. Tem portado e janelão em granito, de vergas e cornijas direitas, e frontão com enrolamento decorado pelas armas reais, do tempo de Dom João VI (Reino Unido de Portugal e do Brasil), a que falta a coroa, por arranque intencional. O corpo interior, igualmente alterado dos seus volumes originais, dispõe-se em alongada nave de planta rectangular, tecto de volta perfeita e alçados divididos em quatro tramos de arcadas cegas, completamente caiadas de branco e sem quaisquer ornamentos decorativos.

Na banda da Epístola e a altura conveniente rasga-se a galeria dos Mesários da Santa Casa, assente em cachorrada de mármore, composta por balcão de talha dourada e amosaicada, do estilo rococó de época de D. Maria I, com treze cadeiras de espaldar. A cadeira do Provedor, mais rica tem pernas e braços recurvos, bem esculpidos, sendo este conjunto datado de 1758, possivelmente da autoria de um ensamblador da oficina de Évora, João da Mata Botelho. Na face sobranceira existe o púlpito do séc. XVII, de mármore branco.

Os prospectos laterais da capela-mor estão revestidos, inteiramente, por azulejos de pasta branca e decoração azul, figurados por quadros representativos de Obras de Misericórdia temporais e assuntos bíblicos, encaixilhados em pujante emolduramento floral, de factura anónima, mas agrupável ao ciclo do artista lisbonense Policarpo de Oliveira Bernardes (c.ª de 1730). As molduras das janelas mantêm pinturas murais e rico emolduramento de madeira dourada, lóbulos e florões esculpidos.
O altar dispõe-se no sistema tradicional, de complexas massas de entalhamento dourado e policromado, do estilo barroco – joanino, com os elementos decorativos próprios: anjos segurando parras e uvas e a simbologia mariana. O frontão, no eixo, em forma adosselada, muito decorativa, ostenta o escudo do padroado régio de Portugal. Na tribuna, completamente forrada de apainelamento entalhado, expõe-se um Cristo Crucificado, antigo e sobre a mesa do altar dispõe-se o sacrário, de talha dourada e no pavimento jazem em quatro campas rasas, de mármore regional, benfeitores da Santa Casa, todas datadas da segunda metade do século XVI.

Na correspondência da cobertura da abside, levanta-se o campanário, muito simples, decorado por um sino de bronze, moderno, fundido em Lisboa no ano de 1885 pela firma Manuel António da Silva & Filhos.

Na sacristia, sobre o paramenteiro de traça corrente, eleva-se, em nicho de talha barroca polícroma setecentista, o Senhor Jesus das Misericórdias e uma pequena e antiga imagem do Senhor Jesus dos Passos.

Mais recentemente foram expostas, no corpo da nave, uma pintura a óleo sobre madeira da Escola Maneirista Eborense, representando a Virgem Orante, de cerca de 1600.Oito bandeiras pintadas a óleo sobre tela, dos séculos XVII-XVIII (uma está datada de 1752), constituem o fundo processional da Semana Santa, representando a mais antiga a veneração de Nossa Senhora da Misericórdia, numa face, e na outra, a Pietá.

Em termos de arte móvel, possui a Irmandade uma colcha de damasco verde agaloada de ouro, do estilo francês de Luís XIV e de factura lionesa, um relógio, de caixa alta, inglês, com mostrador-calendário setecentista, uma lanterna, de suspensão, de metal, em forma octogonal e uma curiosa mesa armário de farmácia do séc. XIX. Da antiga Farmácia restam um conjunto de canudos de farmácia, de faiança (sécs. XVII/ XVIII).

Todo a estrutura da igreja, excepto a pintura e a azulejaria, foram restaurados, em 1999.Em Junho de 2009, procedeu-se, igualmente, ao restauro da grade que antecede o altar da celebração.

No primeiro andar do edifício anexo à Igreja da Santa Casa, aberto por janelas de sacada, com grades férreas do tipo de barrinha (séc. XIX), localizam-se a antiga Sala do Despacho e o Arquivo Histórico da Misericórdia. A sala do Despacho serve, actualmente, para reunir a assembleia-geral da Irmandade, possui um curioso tecto trabalhado em estuque e alberga a galeria de alguns benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Redondo (sécs. XIX-XX).